Entendo que as cotas raciais são meios legítimos, eficazes e transparentes de se lidar com a objetiva desigualdade material existente no Brasil. A meu ver, o mero debate a respeito do tema já traz uma maior transparência à questão, pois a sociedade brasileira tende a tratar o tema desconsiderando seus aspectos objetivos e limitando-se a afirmar genericamente que o povo brasileiro não é preconceituoso e que, por isso, não faz distinções no plano da realidade. Todavia, tal visão apenas reforça a ideia de que o tema deva ser tratado apenas em seu aspecto formal, pois desconsidera dados estatísticos e objetivos, sendo, em última análise, uma maneira de continuar a não lidar com o problema e manter a desigualdade material. Neste contexto, entendo que estamos diante de um campo adequado para a aplicação de políticas públicas de cunho afirmativo, tal como já ocorre com o programa de cotas para ingresso nas Universidades Públicas. A ideia até então reinante de que a entrada no ensino superior dependeria apenas do mérito de cada estudante, desconsidera por completo a realidade da diversidade dos nossos alunos que, na maioria das vezes, não saem do mesmo ponto de partida, razão pela qual não há como se tratar a questão sob este viés. O estabelecimento de cotas raciais é um caminho transparente e, talvez, no momento, um dos únicos possíveis, de concessão de acesso a serviços públicos, sob o enfoque da universalidade no seu aspecto material.