Como bem colocado pela professora Flávia Piovesan, na segunda aula do curso, nossa região, infelizmente, ainda sofre dos seguintes desafios estruturais: 1) Somos a região mais desigual; 2) Somos a região mais violenta; 3) Somos uma região que sofre com a falta de representação democrática. Assim, haja vista que esses fenômenos são mais sentidos pela população afrodescendente, precipuamente pelas mulheres negras, maiores vítimas da violência e da desigualdade, não promover ações afirmativas, nas quais se inserem as quotas raciais, é negar a própria realidade. Nessa linha, nas palavras do escritor James Baldwin: “Nem tudo o que é enfrentado pode ser alterado, mas nada pode ser alterado até que seja enfrentado”. A meu ver, nunca conseguiremos superar esses desafios, se continuarmos partindo da premissa errônea de que todos somos iguais. Tal pensamento, pelo contrário, só serve para acentuar ainda mais a desigualdade. Outrossim, na minha opinião, um ponto de vista pouco explorado na defesa das ações afirmativas, é o de que costumamos enxergar que os benefícios oriundos da adoção de quotas raciais são apenas usufruídos pelos destinatários dessas políticas, ao ponto de alguns afirmarem que as próprias quotas raciais são uma prática discriminatória contra os brancos. Será que tais ações não geram benefícios também para aqueles que não são beneficiados diretamente pelas quotas? Entendo que sim, pois um ambiente, seja universitário ou profissional, enriquecido pela diversidade gera benéficos a todos. Nesse sentido, analisando o impacto da adoção de ações afirmativas, William Bowen e Derek Bok, na obra “The Shape of the River” (In: http://www.gse.harvard.edu/news/uk/18/07/case-affirmative-action), apontam que colegas de estudantes beneficiados pelo sistema de quotas possuem uma postura muito mais consciente, positiva e engajada socialmente contra a discriminação racial. É preciso, portanto, deixar de enxergar o problema da desigualdade social e da discriminação racial apenas como um dever do Estado, mas sim como uma obrigação de toda a sociedade. Por outro lado, entendo também que a política de quotas raciais nas Universidades não é suficiente para combater o problema, pois a realidade brasileira mostra que uma formação universitária não é suficiente para garantia de acesso ao mercado de trabalho, sendo que os negros ainda sofrem com o fator da discriminação racial ao competirem por vagas de trabalho, especialmente para cargos de chefia. Assim, se quisermos mudar a realidade, é preciso ter uma visão muito mais abrangente do problema, com uma conjugação de esforços do Estado e de toda a sociedade. Tais políticas não podem ficar restritas ao ambiente universitário ou ao setor público, é imperioso também criar uma cultura de inclusão dentro do setor privado, como aconteceu no “Caso Magalu”, ao buscar permitir que o acesso igualitário também fosse dado aos cargos de maior remuneração junto a empresa.